Enquadramento do Buraco Roto - Parte 3 de 4

Observações pontuais

 

Na impossibilidade de se efetuar um levantamento estrutural mais detalhado do bordo do planalto de S. Mamede junto à povoação de Reguengo do Fetal apresenta-se um mapa resumo das observações dos acidentes tectónicos identificados bem como uma pequena descrição fundamentalmente apoiada por imagens de cada um deles. Na representação gráfica as várias direções medidas foram propositadamente exageradas pois, como se verifica, poderão ocorrer outros acidentes tectónicos semelhantes noutros locais ao longo da escarpa de falha.

 

Figura Nº 3.6 – Representação gráfica dos acidentes tectónicos já referenciados: EF1 e EF2 – Direções dos espelhos de falha da Falha de Reguengo do Fetal;

os números a branco indicam a localização das fotos que ilustram os locais assinalados; a linha vermelha indica a direçãoda falha de desligamento

ocidental (FW), a linha amarela indica a direção da falha de desligamento oriental (FE); as linhas cor-de-laranja indicam a microfraturação

da banda de cisalhamento associada à falha oriental. Em tons de azul as orientações cardiais. A verde a projeção em planta

da Gruta do Buraco Roto (Imagem Google earth: projeções tectónicas de Raul Pedro; da gruta de Pedro Pinto).

 

Espelho de falha principal (figura nº 3.6 local - EF 1) – O plano de falha mais recente e de grande dimensão rico em planos polidos, estriados e com fibras de calcite localiza-se junto à povoação que dá o nome à falha. Os indicadores cinemáticos observados denunciam movimentação em desligamento esquerdo mas em que a movimentação segundo a inclinação assume um papel de maior relevo. Com efeito os planos de falha medidos apresentam-se orientados NNW-SSE, com pendores na ordem dos 45º para oeste e abundantes estrias de calcite com inclinação 48º SW (Carvalho, J. 2013). Figura nº 3.7.

 

Figura Nº 3.7 - Plano de falha ainda relativamente bem preservado junto à povoação (figura nº 3.6, local - EF 1) (Foto: Raul Pedro)

 

Figura Nº 3.8 – Plano de falha junto à base da vertente ocidental do Cabeço do Poio (figura nº 3.6, local - EF 2) (Foto: Raul Pedro)

 

 Ainda segundo o mesmo autor a Falha de Reguengo do Fetal perde importância para NNE desta povoação passando a simples alinhamento de fraturas. Contudo, verifica-se que houve uma transferência da sua atividade para o troço que se desenvolve a partir daquela povoação até à aldeia de Torrinhas, segundo NNW-SSE.

Figura nº 3.9 – Zona do contacto Jurássico superior/Jurássico médio a NNE do Reguengo do Fetal.

A foto apresenta maioritariamente as camadas de Montejunto (J3CM). (Foto: Raul Pedro)

 

Fracturação paralela sintética (figura nº 3.6, Nº 6) – Reporta-se uma destas fraturas possivelmente associada a uma fase extensorial da Falha de Reguengo do Fetal (figura nº 3.10).

 

Figura Nº 3.10 - Fracturação paralela ao plano de falha da Falha de Reguengo do Fetal. Imagem da vertente sul.(Foto: Raul Pedro)

 

Falhas de desligamento no Vale do Malhadouro - São ainda observáveis duas outras falhas que pelas atitudes verificadas nos planos de falha indiciam atividade tectónica compressiva podendo ter resultado em ambos os casos de reativações da falha normal em desligamento. A importância local deste tipo de acidentes tectónicos fundamentalmente pela sua disposição e possível relacionamento, em profundidade, com a exsurgência do Buraco Roto criaram a necessidade do seu enquadramento numa área mais ampla. Pontualmente a sua localização também é muito relevante para a interpretação da evolução geomorfológica da vertente em que se encontram bem como do próprio perfil do vale fluviocársico (Vale do Malhadouro).

                                                    

Figura Nº 3.11 – Reportam-se as linhas identificadoras da posição dos dois planos das falhas de deligamento observadas na berma da estrada.

Linhas: vermelha representa o plano de falha da falha ocidental (figura nº 3.6 -FW) e a amarela o da falha oriental (figura nº 3.6 - FE). (Foto: Raul Pedro).

Falha ocidental (figura nº 3.6, falha FW) – Esta falha poderá estar enquadrada possivelmente na inversão tectónica Miocénica sendo um desligamento neoformado.

 

Figura Nº 3.12 – Superfície de desligamento ondulada com estrias. Estas inclinam 5º para SSE (1).

Os pontos 2, 3 e 4 são ampliados a seguir. (Foto: Raul Pedro)

 

  

Figura Nº 3.13 – Ampliações do ponto nº 2 – Plano estriado indicando a direção do movimento (próxima de NW-SE).

Fracturação posterior de direção NNE-SSE. Escala dada por moeda de 5 cêntimos. (Fotos: Raul Pedro)

 

 

Figura Nº 3.14 – Ampliações do ponto nº 3 – Depósito conglomerático de arenitos grosseiros de quartzo aglutinados

por cimento calcitico depositados na base de pequena conduta intersetada pela fratura. Ao lado fotografia de pormenor. (Fotos: Fermando Pires)

 

Figura Nº 3.15 – Ampliação do ponto nº 4 - Pormenor das estrias na zona superior do plano estriado.

Ao lado o seu prolongamento para nível superior. (Fotos: Raul Pedro e Fernando Pires)

 

Esta falha de desligamento apresenta ainda duas particularidades interessantes que permitem identificar:

1 - A existência de um episódio compressivo dada a inversão observada na interseção da junta de estratificação com o plano de falha e também de alguma fraturação local associada (figura nº 3.16 A). 2 - Um pequeno espelho de falha de desligamento, paralelo ao maior e separado deste por apenas 5 cm. Apresenta estrias ligeiramente menos inclinadas. (figura nº 3.16 B).

 

Figura Nº 3.16 – A) Rocha bastante fracionada  nas zonas de pressão.

B) Pequeno espelho de falha estriado paralelo ao mais estenso. (Fotos: Raul Pedro).

 

A determinação da direção e mergulho da falha de desligamento de maior dimensão é complexa visto que o plano de falha não só é visivelmente ondulado ao longo da sua inclinação oblíqua como a orientação e inclinação das estrias, nas zonas mais expressivas, desfasadas em altitude, é diferente (possível consequência da inversão). A atitude desta falha, numa perspetiva lata e abrangente será uma direção N 42º W e um mergulho de 50º SW.

 

Figura Nº 3.17 – Aspeto geral da falha descrita. (Fotos: Raul Pedro).

Note-se que a zona fotografada reporta-se ao talude da estrada sujeito a forte desmonte por explosivos.

Falha oriental (figura nº 3.6, falha FE)  - Bastante mais expressivo é o espelho de uma falha de desligamento a pequena distância que embora apresente estrias menos bem marcadas, possivelmente por uma maior exposição ao intemperismo, apresenta um plano de falha mais extenso e com as estrias horizontais indicando neste caso um movimento de direção próximo do NNW-SSE. Direção N 27º W e mergulho 70º E.

Figura Nº 3.18 – Plano de Falha de desligamento. (Foto: Fernando Pires)

 

 

Figura Nº 3.19 - Espelho de falha com estrias horizontais. Observação das estrias no espelho de falha. (Foto: Raul Pedro)

 

 

Figura Nº 3.20 – Pormenor das estrias e ao lado observação da continuação ascendente do plano de falha. (Fotos: Fernando Pires)

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