Enquadramento do Buraco Roto - Parte 2 de 4

 

2.4.2.4 -Vale dos Ventos

Não foi ainda feita qualquer observação.

 

2.4.2.5 - Envolvente do Buraco Roto

A envolvente da entrada do Buraco Roto, pelas dúvidas que levanta, irá ser objeto, num futuro próximo, de uma descrição mais detalhada. Para além da ação antrópica que sofreu desde a idade do bronze tentaremos recuperar o seu aspeto antes dos trabalhos de desobstrução dos anos 50 bem como perceber qual era especificamente a disposição das condutas e o funcionamento das drenagens nessa altura.

 

Figura Nº 2.34 - Parte da parede acima das várias aberturas para o exterior. (Foto: Raul Pedro)

 

No topo esquerdo da figura nº 2.34 são observáveis dois dos aspetos a considerar num conjunto mais vasto de pormenores: a fenda ocupada por vegetação que poderá ser um exemplo de meteorização por atividade orgânica e logo abaixo uma larga concavidade resultante da passagem de água em espaços confinados.

 

O aspeto mais importante a registar com precisão é a altura a que se observavam as drenagens nos anos 50 antes dos trabalhos de desobstrução. Pela foto que se segue esse pormenor, bastante importante para a interpretação das várias fases da evolução da cavidade nas zonas interiores, fica praticamente esclarecido.

 

 

Figura Nº 2.35 - Lavando roupa junto à exsurgência do Buraco Roto antes da realização
das desobstruções dos anos 50. (Fotos: antiga - António Menino; recente - Fernando Pires)

 

2.5 - Aspetos importantes a aprofundar

O pequeno número de observações pontuais realizadas ao longo da vertente Norte do Vale da Quebrada permitiu identificar um interessante e diversificado conjunto de depósitos. A interpretação da evolução geomorfológica deste vale que numa observação geral mais expedita já aparentava ser complexa tornou-se ainda mais exigente.

 

As inúmeras pequenas condutas subterrâneas (centimétricas) que terminam nas paredes mais ou menos verticais da vertente Norte ou nas antigas sapas destas (pelo menos uma observação de sapas paralelas a diferentes altitudes nesta vertente) indiciam a possibilidade da existência de zonas de antigas galerias subterrâneas, a estes níveis, junto às paredes verticais. A " Chaminé" poderá ser um exemplo de antiga entrada para galeria. Na vertente Norte é importante o comprimento da antiga sapa, a menor altitude, e a sua suave inclinação descendente quase paralela ao declive da vertente sugerindo que resultou de um trabalho de erosão realizado por leito fluvial (ou subterrâneo, ou superficial, ou misto). A circulação hídrica teria funcionado durante algum tempo (mais ou menos longo) a esse nível (figura nº 2.15). São notáveis pela sua dimensão dois dos locais escavados nesta vertente: a Pia da Ovelha (figura nº 2.36 A) e parte desta antiga sapa localizada junto a um importante plano de falha a Oeste da Pia e um pouco mais abaixo (figura nº 2.36 B).

 

 

Figura Nº 2. 36 - Formas fluviocársicas de maior dimensão : Pia da Ovelha e um pouco para W e ligeiramente mais abaixo
um local da antiga sapa. Escala dada por escaladores (A) e caminhante (B). (Fotos: Fernando Pires).

 

Na vertente Sul a evolução fluviocársica foi menos evidente e as formas observadas não indiciam a mesma possibilidade de circulação fluvial superficial como na vertente Norte. Nas paredes verticais que se localizam ao longo desta vertente as possíveis ligações a eventuais ocos subterrâneos interiores são mais expressivas.

 

 

Figura Nº 2.37 - Parte da zona final da vertente Sul e pormenor
dos processos fluviocarsicos. (Fotos: Fernando Pires)

 

Algumas das formas superficiais (vertentes Norte e Sul) poderão ter resultado de fenómenos de gelifração e carsificação diferencial. Foram referenciados vários locais onde ocorrem crioclasto (figuras nº 2.18 e 2.19).

 

A interpretação da evolução do perfil do antigo leito fluvial, neste local, é complexa fundamentalmente pela existência de elevado número de descontinuidades. A tectónica e a evolução carsica em profundidade foram determinantes na sua evolução para vale suspenso.

 

As falhas de desligamento e a banda de cisalhamento associada que serão descritas no enquadramento tectónico foram fundamentais na evolução da vertente Norte.

 

Para além das alterações mecânicas e bioquímicas específicas que potenciaram a meteorização da rocha calcária nesta zona há que considerar a sua própria expansão por descompressão com a elevação e a dissolução superficial sofrida ao longo da sua evolução.

 

As alterações antrópicas que aqui têm sido realizadas também foram relevantes.

 

AGRADECIMENTO

Agradecemos o prestimoso contributo da Profª. Drª. Maria Luísa E. Rodrigues do Instituto de Gestão e Ordenamento do Território (IGOT) na revisão do texto respeitante ao enquadramento geomorfológico agora apresentado e ainda pelo esclarecimento de algumas dúvidas.

Este " MUITO OBRIGADO" estende-se à sua disponibilidade para ir ao terreno fazer uma apreciação dos depósitos que descrevemos no texto mas que por questão de doença não foi possível concretizar. Por tal motivo essa parte do texto não foi, por si, revista.

 

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online

Sistema Nacional de Recursos Hídricos (SNRH).

Câmara Municipal da Batalha

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