Algar dos Carvalhos - Ficha de cadastro

 

Na sequência da exploração do Algar dos Carvalhos, iniciada em Março de 2011, publicamos agora a ficha de cadastro da cavidade, para conhecimento da comunidade espeleológica. Os trabalhos de exploração ainda não terminaram, pelo que solicitamos àqueles que desejem visitar a gruta que contactem o CEAE, para evitar sobreposição de datas.
 

Aviso AVISO! Espeleologia é uma actividade para espeleólogos. Envolve sérios riscos de ferimento e morte. Mesmo com conhecimento de manobras de progressão vertical, a prática da espeleologia sem a devida formação permanece uma actividade com riscos para os próprios e terceiros, bem como de impactos negativos no ecossistema subterrâneo. Os interessados em praticar espeleologia são veementemente aconselhados a procurar formação adequada em qualquer grupo de espelelogia da FPE e a exercerem a sua actividade no seio desses grupos; não isoladamente.

 

Entrada do Algar dos Carvalhos

Entrada do Algar dos Carvalhos (Fotografia de Sofia Abrantes).

Acesso

Pela N362 (entre Alcanede e Porto de Mós) ao km17, no lugar da Marinha da Mendiga, tomar o caminho que sobe para o Planalto de Sto. António, saindo da estrada nacional junto ao café 'Serra de Aire'. Ao chegar ao topo da subida por este caminho alcatroado há alguns anos atrás, depois da última curva em gancho e cerca de 100m antes da casa do Sr. Vindima (tem o nome no portão), toma-se à esquerda um caminho de terra batida e estaciona-se o carro numa zona larga junto ao desvio para o primeiro moinho. Segue-se a pé pelo mesmo caminho mais 100m; o algar encontra-se 250m para nascente, cerca de 50m depois de um grande eucalipto que cresce sozinho dentro de uma pequena dolina em celha. A boca do algar tem cerca de 1x2m.
 

Esboço topográfico do Algar dos Carvalhos (clicar na imagem para download).

Descrição

Sector superior

O largo poço de entrada, com planta em L, termina numa rampa bastante inclinada. No fundo, encontra-se a desobstrução de Março de 2011, que revelou esta grande cavidade. Uma amarração natural na parede esquerda protege o acesso a este aperto, que se destrepa na sua parte inicial. Um pequeno ressalto 2m abaixo da entrada, fornece uma base de apoio para a montagem do Y numa posição de relativo conforto (aqui, a intensa corrente de ar faz-se sentir). A desobstrução abre passagem sobre a grande diáclase de 45m de fundo, que se desce e percorre em três troços verticais, entrecortados por corrimões.

O primeiro troço, bastante apertado nos primeiros 3 metros, alarga assim que se entra na diáclase. É necessário colocar um protector de corda no final da parte estreita/desobstruída. Aterra-se numa plataforma, 17m abaixo. Um parabolt na parede esquerda dá início ao primeiro corrimão. Aqui, a corda deve ser instalada com folga suficiente para se descer em rappel. Os restantes parabolts do corrimão, já na parede direita, equipam-se normalmente. Novo troço vertical, novo corrimão, agora na parede esquerda, encontra-se equipado em permanente. O último destes troços, permite alcançar não o fundo da diáclase, mas antes um ressalto que dá acesso ao Poço Raul Pedro (pequena homenagem do CEAE ao seu fundador e mentor de uma geração de espeleólogos). Este poço, estreito na cabeceira devido a um grande bloco que o cobre quase totalmente, rapidamente se torna bastante largo, com um fraccionamento sensivelmente a meio.

Grande Diáclase - Equipagem dos corrimões

Grande Diáclase - Equipagem dos corrimões (Fotografia de Pedro Pinto).

Segue-se outro amplo poço (equipagem na parede direita, mas pode ser melhorada com uma montagem em Y), que dá acesso à zona do 'Refeitório', a -115m. Este local é a encruzilhada de onde parte a rede do Poço Pesado (directamente abaixo do poço do Refeitório). Outras três passagens, horizontais, saem daqui: uma para Oeste, dá acesso a um recanto entre blocos, que termina alguns metros adiante; outra na direcção oposta, igualmente sem continuação. Logo à direita desta, parte a passagem que depois de duas pequenas gateiras (novamente, a corrente de ar faz-se sentir) e um ressalto, dá acesso ao Poço do bloco e à continuação para o fundo da cavidade.
 

Cabeceira do Poço do bloco

Cabeceira do Poço do bloco (Fotografia de André Reis).

Sector fundo

O Poço do bloco, escondido à esquerda ao fundo da galeria, é facilmente acedido ao nível do solo. No entanto, a equipagem está um pouco mais alta; um ressalto a esse nível permite montar a corda com facilidade. Este poço é muito propenso a roçamentos: um desviador a -10m (no local de onde um grande bloco instável foi removido), e outro a -15m devem ser instalados com grande atenção, para evitar roços. Abaixo, deve-se descer contornando os abatimentos. No fundo, uma pequena passagem horizontal, permite passar por baixo desses abatimentos e atingir a próxima montagem em Y. A corda anterior deve fazer aproximação a esta montagem.

Seguem-se os Quatro Caminhos. Trata-se de uma zona complexa, um cruzamento de diáclases com grandes blocos e outros abatimentos suspensos a várias alturas, onde se pode continuar a descer por vários locais. Uma plataforma suspensa está equipada em ambos os extremos. A continuação deste sector é na direcção SE, com o equipamento na parede direita (na direcção oposta, a continuação para o Poço poente está equipada em Y).

Descem-se os 7m seguintes (muito húmidos, em tempo de chuvas) até ao fundo ou, em alternativa, fazendo um pêndulo para evitar uma escalada de 2m. Um parabolt na parede direita fornece apoio à chegada do pêndulo e serve de aproximação ao poço seguinte, o Poço nascente.

Montagem de aproximação ao Poço nascente

Montagem de aproximação ao Poço nascente (Fotografia de Pedro Pinto).

A entrada para este poço é estreita. Antes, pode-se instalar uma segurança adicional passando um cordão de Dyneema num furo na parede esquerda. O fraccionamento deste amplo poço, encontra-se a -10m na parede oposta, junto a uma janela que dá acesso ao Meandro nascente. No fundo do poço, uma passagem estreita deve ser descida com atenção (pés à frente), pois desemboca directamente por cima do poço seguinte.

Aqui começa a zona do Spa, com escorrências e gotejamentos constantes que em tempos de chuva podem ser bastante apreciáveis. Na base deste P8, uma série de passos muito estreitos, o último destes descido em rappel, permitem aceder à sala do Spa. Aqui, pode-se entrar num curto meandro à direita (em altura) ou descer novo poço apertado até aos -208m.
 

Meandro nascente

O Meandro nascente é atingido partindo da janela junto ao fraccionamento do poço com o mesmo nome. Um parabolt após a janela é usado para descer 8m apenas (apesar da diáclase continuar para baixo, voltando a unir-se com o poço nascente). Aqui, pode-se percorrer o meando ao longo de 25m, sendo necessário equipar um corrimão para transpor um rebaixamento do chão.
 

Sector poente

Nos 'Quatro Caminhos', seguindo para NW, descer o poço equipado em Y. O acesso ao Poço poente faz-se com um pêndulo para cima de um bloco. Descendo ao fundo do poço anterior, pode-se continuar a descer entre os abatimentos desta zona, até cerca dos -180m. Um poço paralelo pode também ser descido nesta zona, até uma profundidade semelhante.
 

Poço poente

Poço poente (Fotografia de Pedro Pinto).

Sector Poço Pesado

Na zona mais baixa do 'Refeitório', abre-se este tramo. Uma amarração natural no grande bloco que ocupa o centro da galeria e outra numa ponte de pedra por cima do poço fazem a equipagem inicial (protector de corda necessário logo abaixo deste ponto). Desce-se até um primeiro ressalto. Como o parabolt do poço seguinte está um pouco baixo, pode-se usar ao nível da plataforma nova amarração natural. O poço desce em rampa acentuada no início; quando passa a descer a pique deve-se instalar um desviador. Este poço não se desce até ao fundo, mas antes até um ressalto 5m acima deste. Aqui, um passo algo estreito em diáclase leva a um recanto onde se abre um poço, que se equipa em Y. Neste poço, inicialmente muito estreito, tem nova estreitura a -8m; quando volta a alargar, deve-se pendular para atingir uma plataforma (parabolt na parede direita). A cabeceira do próximo poço fica do outro lado de uma janela muito estreita. O poço, bastante largo, termina a -189m depois de alguns ressaltos.
 

Ficha de equipagem

   510m de corda, 61 amarrações
   325m de corda, 41 amarrações (via principal)

SectorZonaObstáculoCordaAmarraçõesObs.
Sector superior
Poço das Gralhas P24 C35 1AN (bloco), 1AN + 1S em Y aprox. à volta de bloco (uma fita grande ou duas médias)
Grande Diáclase P45 C25 1AN, 2PB em Y AN parede esq; protector necessário a -3m; descer até plataforma a -17m (bloco entalado)
CM4 C35 CP, 3PB 1º PB na parede esquerda, seguintes na direita
P26 2PB em Y descer até ao corrimão, a -14m
CM5 C15 CP, 4PB parede esquerda; corda instalada permanentemente; não descer até ao fundo, mas até à plataforma a -3m
P12
Poço Raul Pedro P33 C40 CP, 1PB, 2PB em Y, 1PB (frac) frac. a -17m
Poço do Refeitório P19 C25 1AN (bloco), 2PB fita grande à volta de bloco
Sector fundo + Meandro nascente
Poço do bloco P24 C35 2AN, 2PB, 1PB (desv), 1PB (desv) desv. a -10m (fita curta) e -15m (fita grande); ponta faz aprox. ao poço seg.
Quatro caminhos P16 C35 CP, 2PB em Y protector recomendado
P7 2PB direcção SE; pode fazer-se pêndulo para evitar a escalada
E2 1PB
Poço nascente P29 C40 CP, 1AN, 1PB, 1S (frac) passar cordão de dyneema num furo de broca; protector recomendado; frac. a -10m, parede oposta
Spa P8 C30 1S, 1AN + 1S em Y aprox. começa antes da passagem estreita, na base do Poço Nascente
R2    
P4 1PB  
Poço terminal P8 C10 1PB  
Meandro nascente P16 C15 CP, 1PB* aprox. a partir do frac. do Poço Nascente; descer apenas 8m
CM10 C15 2AN(!), 2S, 1AN(!) a melhorar; spits parede esq; possível descida ao fundo com C15 no 1º spit
S. Poente
Zona inferior dos Quatro Caminhos P10 C15 2PB em Y direcção NW; pêndulo necessário para atingir o Poço poente
Poço poente P29 C40 2PB  
S. Poço Pesado
Poço Pesado P6 C30 2AN protector recomendado
P17 1AN, 1PB*, 1AN (desv) desv. a -9m
Poço do pêndulo P18 C25 2PB* em Y pêndulo a -12m; fixar ponta à montagem seguinte
Poço Pesado 2 P27 C35 CP, 1PB* (aprox), 1PB* janela estreita na entrada do poço
Ressalto terminal P7 C10 1AN(!) montagem precária à volta de bloco de calcite; a melhorar

     * Parabolt 10mm, sem placa

Abreviaturas
AN Amarração natural
CM Corrimão
CP Corda precedente
E Escalada
P Poço
PB Parabolt
R Rampa
S Spit
Observações
Todos os parabolts são de 10mm, com placa, salvo indicação em contrário;
A equipagem da via principal está destacada sobre fundo escuro; trata-se do equipamento mínimo para descer ao ponto mais fundo da gruta, a -208m.
Para protecção da Gralha-de-bico-vermelho, o Algar dos Carvalhos não deve ser visitado durante o período de nidificação, entre os meados de Março e o início de Junho

 

Download da ficha de equipagem
 

Caracterização geológica

O Algar dos Carvalhos abre-se nos calcários do Dogger, numa zona da Serra de S. Bento cortada por várias falhas importantes, de direcção NW-SE. Mais informação aqui.
 

 

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