Nova rede de galerias descoberta no Algar da Malhada de Dentro

Durante os anos de 2011 e 2012, o Centro de Estudos e Actividades Especiais da Liga para a Protecção da Natureza (CEAE-LPN) levou a cabo uma série de trabalhos espeleológicos no Algar da Malhada de Dentro. No decurso destes, foi descoberto um novo troço com cerca de 370m de galerias. Esta descoberta deveu-se à detecção de corrente de ar numa pequena fenda pelos espeleólogos André Reis e Hélio Frade. Após desobstrução, abriu-se o acesso a esta nova série de galerias. Na sequência da exploração desta zona foram localizados depósitos com interesse arqueológico.

 

Trabalhos de topografia (fotografia de André Reis - CEAE-LPN)

Trabalhos de topografia (fotografia de André Reis - CEAE-LPN)

Introdução

 

O Algar da Malhada de Dentro é uma das mais importantes cavidades do Maciço Calcário Estremenho, quer pela sua extensão, pelo espólio natural que contém e pela sua importância como abrigo de morcegos. A única topografia conhecida da cavidade, efectuada pela Sociedade dos Amigos das Grutas e Algares (SAGA) e publicada em 1985 no livro ‘Grottes et Algares du Portugal’ (Thomas, C., 1985. Comunicar, Lda. Lisboa.), representa cerca de 400m de galerias e um desnível máximo de 65m. Entre essa data e a actualidade, várias galerias foram descobertas e exploradas, multiplicando a dimensão da cavidade e, em consequência, a sua importância. A referida descoberta desta nova rede de galerias aumentou a extensão total por topografar. Por estas razões, a necessidade de um novo levantamento topográfico tornou-se óbvia.

 

Localização do Algar da Malhada de Dentro sobre a Carta Militar de Portugal Série M888 – 1/25000, Folha 319 – Minde (Alcanena)

Localização do Algar da Malhada de Dentro sobre a Carta Militar de Portugal Série M888 – 1/25000, Folha 319 – Minde (Alcanena)

Descrição dos trabalhos

 

Equipa

Participaram nestes trabalhos 29 espeleólogos do CEAE-LPN. Integraram ainda algumas actividades cinco elementos do grupo Alto Relevo - Clube de Montanhismo (ARCM), um elemento da Associação dos Espeleólogos de Sintra (AES) e um elemento do Shannon Group (Irlanda). Todos os participantes possuem credenciação de Nível 2 FPE ou superior (ou grau equivalente da respectiva federação nacional). Em todas as saídas esteve presente pelo menos um espeleólogo de Nível 3 FPE.

Topografia

O levantamento topográfico foi efectuado com equipamento 100% digital, que incluiu dispositivos DistoX, que integram um distanciómetro laser com precisão de 1 cm, uma bússola com precisão melhor que 1° e um clinómetro de idêntica precisão; Os esboços foram igualmente feitos em suporte digital, em dispositivos tipo PDA ou Tablet, com ligação sem fios aos aparelhos de medição. Estes equipamentos, bem como a metodologia utilizada, permitiram um erro global inferior a 1%. O levantamento envolveu a marcação de um total de 314 estações de medição no interior da gruta, gerando uma poligonal de 1603m (quadruplicando a extensão da topografia anterior) e um desnível máximo de 94m.

No desenho final foi incluída a toponímia da topografia anterior. Foram igualmente incluídos os nomes informalmente dados durante a exploração às novas galerias e passagens, bem como às já exploradas, visto não se conhecer qualquer publicação referente a estas.

Novas galerias exploradas

Não obstante a extensão agora topografada, a maioria das galerias exibia sinais de já ter sido explorada, sendo difícil afirmar, para as zonas mais inacessíveis, quais foram exploradas pela primeira vez no decurso destes trabalhos. É excepção a rede revelada pela desobstrução da ‘Passagem da Meia-noite’ (aberta pelo CEAE-LPN a 7 de Setembro de 2011); pela sua inacessibilidade pré-desobstrução e inexistência tanto de marcas de passagem como equipamento, podemos afirmar com certeza que esta zona da cavidade era desconhecida.

Esta nova rede acrescentou 367m de galerias à gruta. Em alguns lugares, nomeadamente nas galerias que levam ao extremo norte deste tramo, foram marcados corredores de passagem com fita balizadora, por forma a reduzir a proliferação de pegadas. A marcação de caminhos com fita balizadora é um método barato e eficaz e, ao mesmo tempo, de baixíssimo impacto e totalmente amovível. Nos pontos onde a fita foi fixa não foi detectado risco de esta ser coberta por manto calcítico de rápido crescimento. No entanto, como todo e qualquer equipamento instalado em gruta, esta deve ser verificada com alguma regularidade.

 

galeria delimitada

Galeria delimitada com fita balizadora (fotografia de Pedro Pinto – CEAE-LPN)

No seguimento da exploração, detectou-se numa zona recôndita a presença de depósitos com possível interesse arqueológico. O depósito é constituído por uma mistura de pedras, argila e ossos (humanos e não humanos) aparentemente descontextualizados. A forma como o depósito se encontra distribuído configura uma rampa de dejecção que aparenta ter caído de níveis superiores, através de uma diáclase aberta no tecto, que se apresenta também preenchida pelos mesmos depósitos. O espaço em questão encontra-se a cerca de 80m de profundidade.

O local foi isolado com fita balizadora (incluindo uma advertência escrita), por forma a alertar eventuais visitantes. Durante a exploração, as estadias neste local foram reduzidas ao mínimo indispensável, pelo que se pode afirmar que os depósitos permanecem intocados, no mesmo estado em que foram descobertos. A descoberta foi comunicada pelo CEAE-LPN ao IGPC (antigo IGESPAR), ficando o achado registado com o número CNS 33730.

 

pormenor dos depositos

Pormenor dos depósitos (fotografia de Sara Brito – CEAE-LPN)

Registo fotográfico

Foi feito um registo fotográfico parcial da cavidade, com equipamento e metodologias para fotografia de grande plano, estando em preparação uma visita virtual interactiva desta cavidade.

Estudo e descrição das cavidades da zona

Está em fase de conclusão um estudo mais abrangente da zona envolvente, respeitante ao enquadramento geográfico e descrição morfológica das cavidades. Inclui, para além do Algar da Malhada de Dentro, os algares da Malhada de Fora, da Cerejeira e das Bombas, bem como a Lapinha do Bairro. Também já se encontra em fase adiantada um esboço de interpretação espeleogenética do Algar da Malhada de Dentro.

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