Apresentação da Visita Virtual ao Algar das Gralhas VII

Chãos – Alcobertas

No domingo, 23 de Março de 2014, decorreu no pavilhão do Rancho Folclórico de Chãos, da Cooperativa Terra Chã, uma sessão pública de divulgação da Visita Virtual ao Algar das Gralhas VII, a primeira realizada na região.
Após a apresentação do evento por parte do Presidente da Cooperativa Terra Chã, Júlio Ricardo, foi a vez de Miguel Geraldes, da direcção da LPN, agradecer o convite formulado e se congratular com a cooperação entre as duas instituições. Foi passada então a palavra a Raul Pedro, do CEAE-LPN, para iniciar a apresentação da visita virtual.
Constatámos a maneira cuidada como esta comunidade se organizou e se vai desenvolvendo, revitalizando as actividades tradicionais, criando postos de trabalho e atraindo visitantes à sua terra. É um excelente exemplo de um desenvolvimento sustentado onde a protecção ambiental e patrimonial são os pilares fundamentais.

 

Comentário no decorrer da visita virtual

Comentário no decorrer da visita virtual (Foto Sara Pires).

 

A seguir à projecção de uma pequena apresentação do trabalho e da cavidade, passou-se a uma curta viagem virtual à gruta com algumas explicações práticas das possibilidades postas à disposição do visitante virtual. É de notar que a visita virtual ao Gralhas VII conquistou o primeiro prémio do Salão de Cartografia do Congresso da União Internacional de Espeleologia de Brno, República Checa, 2013.
Foi sugerido à assistência que pedissem aos filhos e netos para depois em casa, nos seus computadores, lhes possibilitarem uma visita pessoal e com tempo a este trabalho.

 

Aspecto geral da assistência

Aspecto geral da assistência (Foto Sara Pires).

 

A nossa intervenção terminou com uma apresentação documental do problema criado pela exploração de pedreiras próximo desta gruta.
Foram efectuadas por elementos da assistência algumas perguntas concretas sobre as questões destas pedreiras na freguesia de Alcanede, as quais foram respondidas quer pelos responsáveis da LPN quer pela presidente da Junta de Freguesia de Alcanede, Cristina Neves, também presente no evento.
Foi, para nós, um teste muito importante e altamente motivador para o desenvolvimento de futuras acções.
Depois de um curto intervalo para um cafezinho e umas filhós, actuaram os grupos folclóricos das Viegas e de Chãos.

 

Porquê estas apresentações?

A exploração da pedra no Maciço Calcário Estremenho sofreu nas duas últimas décadas uma expansão muito grande. De um negócio importante para a população local, mas de dimensão relativamente modesta, a actividade extractiva transformou-se num negócio de grande escala.
No entanto, o reconhecimento do valor de algumas variedades de calcário e outras rochas aqui extraídas, e dos postos de trabalho (local) que possibilitam, não deveria ser um pretexto para a exploração desenfreada, à custa de outros valores locais.
As pedreiras implicam múltiplos danos e riscos ambientais, não apenas em matéria de conservação da natureza e do património geológico, mas também a afectação do valor turístico da região. Todos iremos pagar no futuro o esquecimento de cautelas que agora deveriam ser tomadas.
E o que está debaixo do chão que pisamos e que não conhecemos?
Também aparecem alguns bons exemplos que precisam de ser reconhecidos e valorizados para que se tornem locais de visitação mais frequente. Precisam de um envolvimento da população local “à moda da de Chãos”.
A poucas centenas de metros do Algar das Gralhas VII foi parcialmente desactivada a Pedreira de Vale de Meios devido às pegadas de dinossauros terópodes que aí foram descobertas. Foi criado um circuito de visitação e afixada informação explicativa. Alguns terrenos não muito distantes correspondem a pedreiras paisagisticamente recuperadas.
Qual o valor para a população local que se extraiu destas intervenções? O que se pode fazer mais?
Um outro bom exemplo, ainda mais emblemático, é o da Pedreira do Galinha. Talvez fosse curioso e revelador um estudo económico comparativo entre a sua capacidade de geração de riqueza local (Bairro) e a gerada em Chãos. A relação custo benefício em ambos os casos poderá ainda ser mais interessante.
As grutas turísticas são uma questão independente, pois os lucros de exploração variam em função do empreendedorismo dos concessionários. E o que criam à sua volta no exterior?

 

Alerta para os problemas ambientais nas explorações de pedra

A extracção da pedra é uma actividade milenar utilizada por todas as civilizações à volta do Mundo.
Em Portugal sempre foi uma indústria importante que em muito poucos casos foi aproveitada na sua totalidade, ou seja: extracção, serragem, corte/polimento. É nestas actividades sucessivas que se obtém o maior valor acrescentado.

 

Percentagem de resíduos gerados, em relação ao material processado, nas várias fases de uma indústria de extracção até ao produto final.

Percentagem de resíduos gerados, em relação ao material processado, nas várias fases de uma indústria de extracção até ao produto final (Costa, 1997).

 

A extracção é a actividade com menor valor acrescentado, mas é a que produz mais resíduos, como se pode verificar nas vizinhanças de muitas pedreiras com a utilização dos próprios blocos para suster as escombreiras. Uma boa parte da rocha extraída não é comercializada.
Em muitas explorações não são cumpridas integralmente as exigências decorrentes da avaliação de impactes ambientais, frequentemente com consequências negativas para as populações locais.

 

Alerta para os problemas ambientais relacionados com a vida diária das populações residentes

Compete às próprias populações locais que habitam na vizinhança das pedreiras (e que fornecem vários trabalhadores para a laboração das mesmas) alertarem para as questões de poluição a que estão sujeitas, por exemplo o ruído ou excesso de poeiras.
A infiltração de águas contaminadas deve ser também uma das preocupações, pois afecta a qualidade das águas usadas pelas populações.

Paralelamente a estas perturbações perfeitamente localizadas ocorrem ainda, em número indeterminado e espalhadas por todos os cantos do Maciço, pontos de contaminação preocupantes:
  •  Deficiente ou inexistente condução ou tratamento dos efluentes domésticos;
  •  Utilização das grutas para despejo de lixo e resíduos industriais;
  •  Utilização desses locais para se desfazerem de carcaças de animais mortos;
  •  Descarga dos efluentes e resíduos produzidos pelas explorações agro-pecuárias.

Outro aspecto que é importante rever e procurar modificar é a forma como as populações locais encaram as aberturas para o interior da terra que encontram nas suas propriedades. São raros os casos de comunicação dessas observações e da subsequente avaliação.
A prática normal tem sido, ao longo dos tempos, a sua ocultação deliberada por poderem representar algum eventual perigo para pessoas e animais ou para uniformizar a superfície do terreno.
Porque entendemos ser sempre importante uma avaliação prévia e também porque algumas dessas passagens podem estar localizadas em zonas de trabalho espeleológico mais activo e ajudarem a definir as circulações subterrâneas, foi criado pelo CEAE um sítio para recepção de informações e queixas: www.acheiumagruta.pt

 

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