Buraco Roto


Vídeo de André Reis

 

No novo levantamento topográfico desta cavidade já foram ultrapassados os 800m de poligonal (desenvolvimento da gruta) e ainda há mais possibilidades de continuação para serem descobertas. O antigo desenvolvimento subterrâneo conhecido já duplicou.

 

 

Acompanhe os trabalhos do projecto "Espeleologia no Reguengo do Fetal" no blogue. Clique aqui.

 

 

1 – Introdução

As repetidas visitas realizadas por espeleólogos do CEAE-LPN ao Buraco Roto ao longo dos últimos anos permitiram, através de conversas informais, um conhecimento e aproximação às entidades locais. A nossa vocação para o ensino e divulgação da espeleologia a nível nacional, bem como o trabalho realizado quer em explorações quer na produção de meios audiovisuais especiais e ainda a alegria dos espeleólogos pelas novas descobertas feitas nesta exsurgência foram, por altura das impressionantes festas de Nossa Senhora do Fetal, um fator bastante influente no estreitamento desse relacionamento. O interesse da autarquia da Batalha em ampliar o leque de atividades de Turismo de Natureza a praticar localmente, bem como o conhecimento, valorização e proteção do seu património subterrâneo e geomorfológico levou a que posteriormente se encetassem contactos para o estabelecimento de um projeto dedicado.
É assim que no nosso projeto interno “Para além do Parque”, já em desenvolvimento, se cria um compartimento (projeto específico) especialmente dedicado à freguesia de Reguengo do Fetal.
O protocolo do projeto “Espeleologia no Reguengo do Fetal” realizado entre a LPN e a Câmara Municipal da Batalha foi assinado em 15 de Janeiro de 2015.

 

2 – Localização

A exsurgência do Buraco Roto, quando em plena actividade de drenagem, constitui uma bela cascata, em ressaltos, totalizando 18m e sendo um importante motivo de interesse na periferia urbana, a Este da povoação do Reguengo do Fetal.
 

foto1Foto nº 1 – Parte dos ressaltos iniciais da cascata. (Foto: Pedro Pinto)

 

Esta povoação, que é sede de Freguesia, pertence ao município da Batalha e localiza-se a meio caminho na estrada que liga a Batalha a Fátima. É um dos mais importantes aglomerados populacionais localizados na base da escarpa de falha que tem o seu nome e é ainda o acesso rodoviário preferencial da faixa costeira ao interior do Planalto de S. Mamede. A estrada apresenta um traçado ascendente muito interessante do ponto de vista paisagístico, quer no percurso que vence o bordo do planalto quer depois no traçado mais plano ao longo do Vale da Quebrada.
A maior parte do território da Freguesia do Reguengo do Fetal a sul do IC-9 encontra-se enquadrada na Rede Natura 2000 (exceção para uma estreita faixa que abrange áreas da parte sul dos lugares de: Torre, Vale do Freixo, Celeiro e Perulhal). Para além deste aspeto relevante, os espaços com elevado valor natural estendem-se para Norte até ao Vale das Nascentes do Lis e para oriente do rebordo do Planalto de S. Mamede.

 

mapa1Mapa nº 1 – Imagem Google abrangendo a parte intermédia do Concelho da Batalha


Embora o Buraco Roto seja uma das importantes nascentes no limite NW do planalto de S. Mamede (só, aqui, suplantada pelas nascentes do Lis) faz parte das que têm uma relevância secundária em relação às principais nascentes localizadas junto ao rebordo do Maciço Calcário Estremenho (MCE) e que fazem a drenagem dos seus principais subsistemas cársicos.
 

fig1

Fig. Nº1 – Localização do Buraco Roto, dos principais rios com origem no bordo do Maciço Calcário
Estremenho e, a azul, das duas outras exsurgências perenes. Mapa hipsométrico, FERNANDES MERTINS (1949).

 

3 – Metodologia desta abordagem

Tal como no passado recente (anos 50 do século XX – ver adiante), são a água, os seus caminhos e as bacias de alimentação às possíveis condutas subterrâneas a merecer a nossa principal atenção. É pois natural que seja dada, por nós, alguma atenção especial ao ambiente hidrológico (fundamentalmente subterrâneo). Este é determinado por um conjunto de parâmetros morfológicos, geológicos e climáticos que influenciam as principais características de um regime de água subterrânea numa determinada área. Cada um destes três componentes está por sua vez dependente de vários parâmetros. Nos morfológicos incluiremos a análise, classificação e descrição das formas superficiais mais importantes ou características, e de outras que poderão, pontualmente, abranger um espaço topográfico mais vasto em função da sua relevância para o conjunto a que pertence esta parte do MCE. Nos geológicos abordar-se-ão resumidamente as propriedades das rochas e as suas heterogeneidades (estratificação, tectónica, carsificação subterrânea). Nos climáticos consideramos serem relevantes os valores médios anuais de precipitação e temperatura nos últimos anos bem como as ocorrências extremas, mas há toda uma alteração das formas superficiais e subterrâneas que evoluiu durante grandes períodos de tempo em condições paleoclimáticas ainda mais extremas. Para a evapotranspiração potencial e real, tipo e densidade da vegetação, recorreremos à bibliografia existente.
No momento da publicação deste artigo, o trabalho realizado e pronto para divulgação relaciona-se fundamentalmente com a exploração e levantamento topográfico do Buraco Roto. Esperamos publicar, em breve, alguns dos resultados do trabalho de campo realizado na freguesia que serão obrigatoriamente parciais e pontuais dada a extensa área a ser observada. Oportunamente, e à medida que os trabalhos de observação e prospeção forem decorrendo, será feita a sua publicação.

 

4 – Um pouco de história

Ao longo dos tempos, tal como em outras partes do mundo, as autoridades locais de regiões calcárias sempre procuraram obter recursos hídricos explorando exsurgências ou reservatórios em cavidades naturais para captarem o seu abastecimento de água o mais próximo possível dos centros urbanos.
A excelente localização do Buraco Roto, com água brotando abundantemente no Inverno, e estando sobre-elevado relativamente ao exterior fazia prever, ali perto, um bom reservatório no interior do calcário. O seu desenvolvimento ligeiramente descendente avolumava as expectativas. Nos anos 50 do século XX foi realizada pela Direcção-Geral dos Serviços de Urbanização uma importante desobstrução ao longo de uma grande parte da conduta subterrânea natural, a fim de se alcançar o tão desejado reservatório. Em vão.
As posteriores explorações espeleológicas nos anos 80 deram os mesmos resultados.

 


"- Fui aqui há dias dar uma vista de olhos ao Buraco Roto com o Hélio Frade e o Adriano Silva e aquilo pareceu-me muito interessante. Abrimos uma nova passagem ascendente e há uma boa escalada para fazer lá no fundo", disse o André Reis ao cafézinho do fim do dia no Solero.


"- O pessoal do NEL e o SAGA trabalhou na exploração dessa nascente. Nunca passaram a níveis superiores, ou inferiores mas ela está numa localização muito particular e ainda por cima num tipo de calcário com grandes potencialidades de carsificação", foi a resposta.


Este foi o ponto de partida para se ultrapassarem algumas dificuldades técnicas e de exploração e se avançar para zonas novas nesta cavidade. Uma inusitada ou invulgar desobstrução vertical (2010), na zona mais profunda até então conhecida, permitiu aceder à base de uma alta descontinuidade vertical. Uma escalada feita pelo Timóteo Mendes (2014), seguida de uma pequena desobstrução lateral já no topo, deu acesso a um troço paralelo e sobreposto à zona final conhecida, 11 metros mais acima.

 

5 – Topografia atual

 

Planta (PDF)    Perfil (PDF)


6 – Equipas de trabalho

A desobstrução de 2010 foi realizada por uma equipa de exploração constituída por: André Reis, Hélio Frade, António Galvão e Maria João Sousa.
Em 2014 foi realizada por Timóteo Mendes a escalada da ampla chaminé a que se tinha acedido pela desobstrução de 2010 (Passagem da Lengalenga). Durante o final do verão de 2014 decorreu a exploração adiante daquela passagem, conduzida por André Reis e Hélio Frade, que incluiu três desobstruções adicionais e adicionou mais de 300m de galerias ao desenvolvimento conhecido, até ao ponto em que as equipas tiveram de parar por causa das condições climatéricas.
O levantamento topográfico foi efectuado durante os trabalhos de 2014, sob liderança de José Ribeiro.
Participaram nos trabalhos de 2014 os seguintes espeleólogos (do CEAE, salvo indicação em contrário):
André Reis, Hélio Frade, José Ribeiro, Pedro Pinto, Adriano Silva, Pedro Ferreira, Florbela Silva (AESDA), Bruno Pais (AESDA), Renato Mendes.

 

7 – Agradecimentos

Desde as primeiras deslocações efetuadas ao Reguengo do Fetal que os espeleólogos do CEAE-LPN têm sentido um importante apoio de elementos da população local. À medida que se avolumaram os contactos e se foram estreitando as relações fomos progredindo na abordagem institucional às entidades locais.
É uma nova experiência para todos e tem sido extremamente gratificante para nós constatar o interesse, empenho e dinamismo de muita gente desde os principais responsáveis locais até aos trabalhadores rurais.
Merece-nos um agradecimento especial o Sr. Dr. Paulo Jorge Frazão Batista dos Santos, Presidente da Câmara Municipal da Batalha, pela confiança e apoio demonstrados na resolução de assuntos relacionados com este projeto evidenciando o seu empenho pessoal.
No terreno tem sido a extraordinária disponibilidade pessoal e de meios do Sr. Horácio Manuel Goncalves de Sousa, Presidente da Junta de Freguesia do Reguengo do Fetal, que nos merece um agradecimento muito especial. Este agradecimento é extensível às várias pessoas envolvidas nas atividades locais da Junta de Freguesia que sempre nos acolheram e ajudaram de forma calorosa.
Para o nosso excecional guia de campo, Eng. António Neto, é unânime em todos os elementos da nossa equipa que já participaram em atividades no Reguengo do Fetal um sentimento de amizade, de pertença ao grupo.
De entre as mulheres e homens que labutam nos campos com quem nos cruzamos e que nos deram informações preciosas destacamos o Sr. António Menino, proprietário de terrenos próximos do Buraco Roto, que nos tem contado vários factos antigos bastante interessantes.

 

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